ANÁLISE DO FILME MELHOR É IMPOSSÍVEL

AUTOR: ADEMILSON MARQUES DE OLIVEIRA


O filme, “Melhor é Impossível”, é uma obra de: James Brooks com Jack Nicholson. Nele, depara-se com o personagem Melvin, este apresenta sintomas obsessivos, tais como: fechar a porta por diversas vezes, contando todas as ações. Ele também tem outras manias, como acender e apagar as luzes na mesma proporção que tranca a porta. Fica sempre calçado e com luvas nas mãos. Ao sair de casa, só come com talheres de plásticos. Troca de sabonete várias vezes, ainda que novo, ao lavar as mãos, como se o sabonete fosse descartável. Morre de medo de ser contaminados por pessoas e coisas. Só anda com o olhar fixo ao chão, entre outros.

Diante dos fatos, percebe-se que, estamos diante de um quadro de Transtorno Obsessivo Compulsivo, portanto, Melvin, apresenta um quadro de TOC. Ocorre que, o paciente, mesmo depois de diagnosticado rejeita tomar as medicações, de acordo com as orientações do médico psiquiatra.  

O TOC é um quadro de sintomas que podemos chamar de psicopatologia, sendo que, por meio de suas manifestações são passíveis de identificação na clínica. Provavelmente o próprio paciente percebe os sintomas, devidos às angústias que são acometidas.

Na medida em que o tempo passava, o Melvin desenvolvia comportamentos agressivos. Porém, certo dia, o senhor Simon Nye, vizinho de Melvin, após sofrer um assalto foi encaminhado ao hospital. Neste contexto, Melvin é solicitado a cuidar do cachorro de estimação do vizinho. Assim, nasceu um afeto entre um cachorro e o seu provedor de cuidados do animal, e esta nova situação moldou o comportamento do Melvin, o que possibilitou o surgimento de uma amizade com Carol e Simon – um sentimento capaz de finalmente fazê-los felizes.

Finalmente, Melvin, se apaixonou por Carol, e, portanto, aos poucos ele se liberta dos sintomas psicossomáticos, parando com alguns rituais. Passando a ser uma pessoa melhor, visando o amor de Carol. Enfim, ele desejava que Carol se apaixonasse por ele.

Aqui vale ressaltar as ideias de Lacan, ele fala que, o desejo se constrói no caminho da demanda. Portanto, toda demanda é demanda de amor. O afeto, desenvolvido no Melvim, no fundo é um desejo, pois ele se relaciona com vazio central no qual pode se localizar a causa do desejo. O desejo como falta representa a coisa ausente que ele visa.

Em uma linguagem mais romântica podemos inferir o poder do amor, ele pode curar as pessoas. O fato é que no filme, os sintomas de Melvin diminuíram significativamente, após se apaixonar por Carol, inclusive passou a ter mais responsabilidades, ao passo que, ele voltou a se medicar, visando ser um ser humano melhor. Ele desejava fazer a sua amada feliz. Com esta mudança de comportamentos, ele esquece um pouco de suas manias, que tinham anteriormente.

Neste sentido vale lembrar de que, o principal efeito de todas as paixões nos homens é que incitam e dispõem a sua alma a querer coisas para as quais elas lhe preparam os corpos.

            Por outro lado, para Freud (1909) o significado dos comportamentos de obsessão e de compulsão se dá em decorrência do confronto de dois impulsos diferentes, com a mesma potencialidade.   Mas, como podemos entender os sintomas neuróticos da obsessão?
O professor Alberto Murta (2017), sobre o tema, faz uma relação entre a clínica do obsessivo, em relação à clínica de histeria.
Na clínica do obsessivo, diferente da clínica da histeria, a questão desloca-se para longe do que diz respeito ao desejo. Pelo contrário, sua questão emerge como uma questão existencial, que se formula da seguinte maneira: “estou vivo ou estou morto?” O progressivo congelamento do obsessivo pode ser explicitado na sua posição de ocupar o morto. No fundo, ele é um morto enjaulado, carregando em quaisquer deslocamentos, sua própria jaula. Em outras palavras, ele se põe como morto para justamente não querer saber nada de seu desejo. (pag. 46).
Segundo Lacan, o sujeito obsessivo apresenta muita complexidade, pois, para ele, o paciente, no mesmo tempo mostra e não mostra o seu real desejo. Dessa forma, surge um questionamento: qual é o status da vida do obsessivo? “Ora, a ilusão, a fantasia mesma que está ao alcance do obsessivo é, afinal de contas, que o Outro como tal consinta em seu desejo”. (LACAN, 1999, p. 429).

Em resumo, o filme, “Melhor é Impossível”, disponibilizou os sintomas e as características da neurose obsessiva, ou melhor, do TOC. O protagonista do filme, Melvin Udall possibilitou excelentes reflexões acerca na clínica do obsessivo, como também, a importância da afetividade, do amor, do carinho e do desejo na vida humana, visto que, percebemos a melhora na qualidade de vida de Melvin, ao fazer a experiência do afeto, ao cuidar do cachorro e posteriormente se apaixonar por Carol.

Entretanto, o filme não relatou a história da vida infantil do protagonista, talvez, seria importante, pois essa doença, talvez, tenha ligação com fatos de sua infância. Porém, os sintomas e comportamentos, são apresentados como na explicação psicanalítica, o que valoriza a análise do filme, do ponto de vista do tema amor e paixão, em filosofia e psicanálise.

Referências Bibliográficas

FREUD, Sigmund. Edição Standart Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. 24v.

MURTA, Cláudia; SANTOS, Jorge Augusto Silva; MURTA, Alberto.  Amor & Paixão em Filosofia e Psicanálise. UFES. Vitória, 2017.

LACAN, Jacques. Outros Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003.

FILME MELHOR É IMPOSSÍVEL. Disponivél em: https://player.vimeo.com/video/24561622. Acessado em: 14/08/2018.


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