quarta-feira, 4 de abril de 2012

Além das Ideias: O Realismo Platônico como Fundamento da Realidade

Autor: Ademilson Marques de Oliveira


Diferente de Descartes, que define ideias como atos do pensamento, e do conceito de Kant, que diz que ideias são meros entes do nosso pensamento, ou entes da razão. A ideia platônica é algo real. Mais do que isso: as ideias platônicas são o que há de mais real, são os princípios supremos de toda a realidade.

As ideias platônicas são realidades supremas, que contém as formas das coisas sensíveis. Elas são protótipos que encerram em si o sentido mais próprio de tudo quanto percebemos. Segundo Platão, nada do que está sujeito à geração e à corrupção pode constituir o ser das coisas em sentido mais próprio. Podemos dizer que as coisas que percebemos têm um ser, mas não é o ser. O devir só é enquanto vem a participar das ideias.

Platão atribuiu as suas ideias a um estatuto de realidade transcendente, da mesma forma como Sócrates considerava a alma. Segundo Platão a ideia só pode ser aprendida por aquilo que em nós lhe é mais semelhante, isto é, pela alma. Assim como o homem é fundamentalmente a alma, as coisas sensíveis são, em última análise, as ideias das quais elas participam.

Ainda Platão considerava o movimento como ideia. Diz-se que uma coisa se move (que está assim, sujeita aos movimentos), ela não o faz senão enquanto participa do gênero ou ideia do  movimento. Aqui está a refutação de uma segunda tese de Parmênides: o movimento existe e é um gênero ou ideia suprema pela qual podemos pensar o fato, inquestionável, de que as coisas (sensíveis) se movem.

Assim, enquanto um homem ainda não era gerado, mais vem a gerar-se, o seu movimento de geração participa da ideia de movimento. Isso faz com que um dado se possa transformar-se sem que, ao mesmo tempo, perca o seu atributo de ser, a saber, é ser enquanto movimento, isto é, como movimento, enquanto gênero ou ideia participa do ser.

Segundo a tese do diálogo existem cinco gêneros supremos: ser, mesmo (identidade), outro (alteridade), movimento (vir-a-ser ou devir) e repouso (imobilidade). Admitidos como seres os quatros últimos, o ser, tendo que ser dito de todos, absorve contra Parmênides, tanto a mobilidade do ser enquanto a sua multiplicidade. A teoria do não ser de Parmênides é relativizado, pois inegavelmente, quando dizermos que algo é outro, dizemos não ser homem e, assim, dizemos o que não é, mas não em sentido absoluto, mas relativamente a outro ser.

A Contribuição de Sócrates para a História da Metafísica

Autor: Ademilson Marques de Oliveira


A contribuição de Sócrates para a história da Metafísica é tanto negativo quanto positivo. A diferença entre esses dois pontos é que analisando o lado negativo percebemos que Sócrates não aceita a Teoria dos Físicos, fazendo assim seus sucessores, principalmente Platão e Aristóteles, que foram ousados aos buscar os princípios supremos das coisas além da natureza corpórea, abrindo caminho para o conhecimentos suprassensíveis. 

No entanto, a doutrina da alma de Sócrates apontava para uma visão nova e transcendente, na medida em que a alma socrática transcende o corpo, como uma entidade sobre natural e, ao menos incorpórea. A partir da tese apontada por Sócrates sobre a Metafísica, Platão introduziu seus próprios pensamentos, numa perspectiva espiritualista totalmente nova, e é nela que Metafísica surgirá com todas as suas cores, num legado imortal para a história da disciplina. 

Porém, não podemos negar um forte apelo ético no pensamento de Platão, podendo assim afirmar que a ética é o verdadeiro centro gravitacional do seu pensamento. Sendo essa a sua marca fundamental, consequentemente sua tese é elevada importância, pois trata sobre a doutrina da transcendência da alma, (a alma da qual ele procurava demonstrar a imortalidade no Fédon). Isso mostra que Platão teria seguido os mesmos passos deixados por Sócrates, seu mestre, mas foi além do seu antecessor. Sócrates afirmou positivamente a existência de uma alma transcendente, ele criou outras ideias como os princípios de todas as coisas, defendendo, assim, outras realidades transcendentes.

Após a segunda navegação platônica é que se pode falar em imaterial, suprassensível e que nos possibilita o entendimento que o verdadeiro SER é constituído pela realidade inteligível, segunda a fundamentação da metafísica, em Platão. 

A contribuição de Sócrates para a história da Metafísica é ambígua, apresentando aspectos negativos e positivos. Por um lado, Sócrates rejeitou a Teoria dos Físicos, dando espaço para seus discípulos, principalmente Platão e Aristóteles, explorarem princípios além da natureza corpórea e avançarem no conhecimento suprassensível. Por outro lado, a doutrina da alma de Sócrates trouxe uma visão transcendente inovadora, na qual a alma é vista como uma entidade sobrenatural e não corpórea.

Indivíduo versus Gênero: Nietzsche e Freud sobre a Vontade de Vida e a Ilusão Religiosa

Autor: Ademilson Marques de Oliveira

Nietzsche e Freud adotam como ponto de partida o ser humano como indivíduo e não como gênero antropológico ou conjunto de relações sócio-econômico-políticas.
Para Nietzsche, a religião cristã acaba enfraquecendo a vontade da vida ao enfatizar o sofrimento e disseminá-lo por meio da compaixão. Além disso, o incentivo a um comportamento de ovelhas de rebanho também acaba levando a uma fraca de vida, que não afirma a vontade diante do nada, mas se acovarda no medo e na culpa. Também a valorização da vida após a morte acaba servindo ao propósito de enfraquecer a vida. Esse tipo de deus que não responder ao niilismo e que promete uma solução redentora para todos, mas que nunca acontece, segundo Nietzsche, estaria morto.
Para Freud, a religião teria sido uma forma importante de reprimir os instintos destrutivos dos indivíduos e que poderiam destruir a capacidade humana da vida em sociedade. Na medida em que isso é vital para a espécie, a religião desempenhou um papel importantíssimo. 
No entanto, uma vez que a civilização tem outras maneiras de compensar a renúncia aos instintos, de explicar a natureza (diminuindo, assim, o medo e a ansiedade) e proteger o homem dos perigos naturais, a religião tenderia a perder seu lugar na cultura. Tendo origem não na experiência ou na razão, mas no desejo, a religião seria uma ilusão com os dias contados.


Marx e a crítica da religião: quem é Deus para Marx?

Autor: Ademilson Marques de Oliveira

Marx entende que a essência humana não constitui uma realidade. Ele afirmava: que a miséria religiosa constitui ao mesmo tempo a expressão da miséria real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o íntimo de um mundo sem coração e a alma de situações sem alma. É o ópio do povo.
Para ele a crítica da religião de Feuerbach permite ao homem reconquistar a razão, afim de que ele gire em torno de si mesmo e não mais de um Deus que não existe, mas de seu verdadeiro sol.
Para Marx, a miséria real não é a que decorre da perda de uma essência projeta num Deus que não existe. Para ele, de fato, Deus não existe, e a religião não decorre disso, mas das condições materiais de produção da história, que geram um mundo invertido que valoriza as coisas e desvaloriza as pessoas. A religião é parte dessa visão invertida do mundo, mas apenas como consequência. Ela é uma ideologia que legitima a ordem capitalista ao entorpecer a consciência revolucionária da classe operária.
Erich Fromm escreveu um livro sobre a concepção de homem em Marx e o psicanalista procurava mostrar como a filosofia marxista era extremamente humanista e preocupada com o futuro do homem. Assim, o processo de objetivação e coisificação tornaram-se parte da grande alienação que é o capitalismo, que fala das coisas e mercadorias como se tivessem um fim em si mesmos, escravizando os homens. 
No capitalismo, os homens vivem para as mercadorias, quando o certo é que elas existissem para fins humanos. A religião é uma inversão porque ela aliena o homem de sua miséria e lhe promete um reino de felicidade e paz no além.
No entanto, o projeto soteriológico, pelo menos no cristianismo, que é o que eu conheço, não começa com a morte, mas na nossa vida. Tanto a filosofia quanto a religião cristãs funcionam como mecanismos que nos ajudam a vencer a fugacidade e o caráter vãos do mundo. Assim, elas fornecem um dispositivo prático de melhoria de nossa própria vida. E é fato, podem me criticar, mas são dados estatísticos:
Quem tem fé vive mais e melhor. Assim como quem tem vida comunitária, seja na família ou em algum tipo de fraternidade. Se a religião for uma mentira, é dessas ilusões que tornam a vida possível.

Consciência de Si - Superando a Opressão Religiosa segundo Feuerbach

Autor: Ademilson Marques de Oliveira


Segundo Feuerbach, a religião se torna fonte de opressão e deve ser superada pela tomada de consciência de si mesmo pelo ser humano. Para ele, é preciso superar a religião como busca de relacionamento com deus enquanto realidade transcendente. 

Feuerbach acredita que devido a religião ser invenção humana, ela aliena o homem de si mesmo, pois a essência do homem é primeira projetada em Deus, para depois ser reconhecida pelo próprio ser humano por essa via indireta. 

Deus não é mais do que uma projeção de nossa essência genérica, na qual se concentram todas as qualidades humanas em sua forma mais perfeita. a essência do homem está nos seus mais altos poderes: a razão, o amor e a vontade, que são aquilo que o distinguem e que dão o sentido de sua existência. 

Portanto, para Feuerbach, a realização humana pressupõe a superação da alienação religiosa por meio de uma tomada de consciência de sua própria realidade essencial. 

Ao compreender que Deus é apenas uma projeção de suas próprias qualidades mais elevadas, o ser humano pode se libertar da opressão religiosa e buscar a realização de seu potencial máximo através do desenvolvimento de sua razão, amor e vontade. 

A verdadeira essência do homem não está em buscar uma conexão com uma entidade transcendente, mas sim em reconhecer e fortalecer suas próprias capacidades e virtudes. Feuerbach acredita que ao se conscientizar de sua verdadeira natureza, o ser humano poderá alcançar a plenitude e viver de forma autêntica e plena.

Desconstruindo a crença: Um olhar sobre o ateísmo e a negação do Divino

Autor: Ademilson Marques de Oliveira

O ateísmo é simplesmente a negação do teísmo. Se Tomarmos o teísmo com a afirmação da crença em Deus, temos que ateísmo é a negação da crença de Deus existe. Para o ateu, pelo o fato da crença em Deus não corresponder a uma realidade, ela é simplesmente falsa.
Se há muitas compreensões de Deus, então há também muitas maneiras de se negar a crença em Deus. Pressupondo-se que um determinado credo religioso rejeita o modo como Deus é concebido por outro credo, então é possível ser religioso e ser ateu nesse sentido.
Em termos amplos, pode-se considerar o ateísmo a negação do divino, de qualquer visão de mundo religiosa que procure relacionar, por meio de um caminho de reconciliação ou salvação, os seres humanos a uma realidade tida como não meramente humana, uma realidade divina. Esse componente geral é que está pressuposto na tese de que a irreligiosidade é um fenômeno cultural raríssimo na história humana e bastante evidente no nosso tempo.
O ateísmo é a negação da existência de um ser pessoal incorpóreo, onipotente, onisciente, eterno, totalmente livre, infinitamente bom, criador e mantenedor do universo e sumamente digno de culto e adoração. Esse conceito foi objeto da extensa discussão da metafísica, e está presente em praticamente toda a história da filosofia.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Ser e Aparência na Política: Uma Reflexão na perspectiva de Hannah Arendt

Autor: Ademilson Marques de Oliveira

Segundo Hannah Arendt, a separação platônica entre o ser e a aparência marcou um passo histórico que não se limitou à experiência grega, mas se propagou por toda a civilização ocidental. 

A desvalorização da aparência como o lugar do não ser e a afirmação do ser como oposto ao aparente marcaram de forma decisiva o pensamento ocidental. No entendimento de Arendt, não há uma identidade política inata, não somos seres políticos por natureza. A ação política pode ou não surgir entre nós, ao contrário das abordagens de Husserl e Heidegger sobre a dimensão do outro. 

Para Arendt, a ação política é sempre uma interação com os outros. A construção do ser político em Hannah Arendt ocorre no espaço público, onde a ação política se manifesta e onde a pluralidade humana se estabelece. Portanto, a interação com os outros é fundamental para a constituição da identidade política de cada indivíduo. 

Segundo Arendt, a política não é apenas um meio para alcançar um fim, mas a expressão da liberdade humana e da capacidade de agir e se relacionar de forma autêntica com os outros. Ela entende que a ação política vai além da busca pelo poder ou pela dominação, sendo, na verdade, um meio de promover a convivência pacífica e o florescimento da vida em comunidade.

DESAFIOS E APRENDIZADOS: RELATO DE EXPERIÊNCIAS NO ENSINO REMOTO EMERGENCIAL DO IFRS

RESUMO : Em 2020, a pandemia de COVID-19 impôs a rápida transição para o ensino remoto no Brasil. Este estudo tem como objetivo analisar o ...