terça-feira, 24 de abril de 2018

A função do pai em psicanálise e suas relações com a cultura, baseado na obra de Totem e Tabu, segundo Freud


Autor: Ademilson Marques de Oliveira

A função do pai em psicanálise e suas relações com a cultura, baseado na obra Totem e Tabu, segundo Freud

Resumo:
Abordaremos neste texto uma reflexão sobre a obra Totem e Tabu de Freud. Assim, pretendemos explicar como o Pai da Psicanálise concebeu o pai e suas funções sociais, na visão psicanalítica, e buscaremos relacionar a função do pai e suas relações com a cultura. Para realização deste trabalho foi feito fichamento da obra em estudo e posteriormente o texto foi construído. Esta pesquisa é relevante para todos que buscam conhecimento em Psicanálise, na visão freudiana. Concluiu-se com este trabalho que os recalques, os sentimentos de culpa e as repressões podem desenvolver sintomas passionais, que poderá gerar neuroses e doenças emocionais. Portanto, o ponto chave da arte do viver bem é amar. Quem ama relaciona melhor consigo mesmo, com outro, com a natureza e com o mundo.

Palavras Chaves: Psicanálise; Freud; Totem e Tabu; Cultura.


Introdução:

É sempre bastante instigante caminhar na busca do conhecimento. Portanto, quando navegamos no universo do desejo inconsciente não é diferente. Sócrates defendia o amor pelo saber, aqui o nosso desejo é demonstrar amor pela Psicanálise.

Desta forma, para este trabalho, nossa proposta é fazer uma relação da função do Pai em Psicanálise e suas relações com a cultura, segundo Freud, referente à obra “Totem e Tabu”.

Assim, para nossa pesquisa formula-se a seguinte questão problema: Como podemos relacionar a cultura com a função do Pai, na visão freudiana?

O nosso objetivo é fazer uma reflexão sobre as consequências do “Tabu”, na vida das pessoas, além de dialogar com aspectos morais, religiosos, mitológicos e de autoridades, pois são elementos que estão presente em nosso meio. Também analisaremos o Totem, e sua função.

A metodologia utilizada é a referência bibliográfica, com base nas referencias citadas no trabalho. Ressaltamos que fizemos fichamentos das obras, e, posteriormente produzimos o texto.

Este trabalho é de relevância para todos que buscam conhecimentos da obra Totem e Tabu, de Freud, em relação à função do Pai, e suas relações com a cultura.


Discussão/Reflexão/Relação:

No texto Totem e Tabu de Freud fica clara a função primeira do pai. Esta atribuição é a de autoridade, aquele que impõe limites, ou seja, o que estabelece as regras. Por esta via podemos entender o Pai, na Psicanálise, como representante simbólico da autoridade. Esta obra já tem aproximadamente um século de publicação, conforme informações encontradas:

Totem e Tabu foi traduzido em diversas línguas além do inglês, durante a vida de Freud: em húngaro (1919), espanhol (1923), português (s/data), francês (1924), japonês (duas vezes, 1930 e 1934) e hebraico (1939). http://conexoesclinicas.com.br/wp-content/uploads/2015/01/freud-sigmund-obras-completas-imago-vol-13-1913-1914.pdf

Diante desta análise indaga-se: qual a diferença em Tabu e Totem? Como a função do Pai, no ponto de vista da psicanálise, se relaciona com a cultura? Freud diz que:

A análise dos tabus é apresentada como um esforço seguro e exaustivo para a solução do problema. A investigação sobre o totemismo não faz mais que declarar que ‘isso é o que a psicanálise pode, no momento, oferecer para a elucidação do problema do totem’. ‘Tabu’ é um termo polinésio.  O significado de ‘tabu’, como vemos, diverge em dois sentidos contrários. Para nós significa, por um lado, ‘sagrado’, ‘consagrado’, e, por outro, ‘misterioso’, ‘perigoso’, ‘proibido’, ‘impuro’. http://conexoesclinicas.com.br/wp-content/uploads/2015/01/freud-sigmund-obras-completas-imago-vol-13-1913-1914.pdf

Na mesma obra, Freud explica os Totens desse modo:

Os totens são, pelo menos, de três espécies: (1) o totem do clã, comum a todo um clã, passando por herança de geração a geração: (2) o totem do sexo, comum seja a todos os homens ou a todas as mulheres de uma tribo, com exclusão, em cada caso, do sexo oposto: (3) o totem individual, pertencente a um indivíduo isolado, sem passar aos seus descendentes. Os dois últimos tipos de totem não se comparam, em significação, ao totem do clã. A menos que estejamos inteiramente enganados, constituem desenvolvimentos posteriores e são de pouca importância para a natureza essencial do totem. O totem do clã é reverenciado por uma corporação de homens e mulheres que se chamam a si próprios pelo nome do totem, acreditam possuírem um só sangue, descendentes que são de um ancestral comum, e estão ligados por obrigações mútuas e comuns e por uma fé comum no totem. O totemismo, assim, constitui tanto uma religião como um sistema social. Em seu aspecto religioso, consiste nas relações de respeito e proteção mútua entre um homem e o seu totem. http://conexoesclinicas.com.br/wp content/uploads/2015/01/freud-sigmund-obras-completas-imago-vol-13-1913-1914.pdf


A partir da obra Totem e Tabu, um dos textos fundamentais de Freud, é possível que façamos reflexões como conceitos de vida e morte, culpa e gozo. Ele nos oferece uma versão psicanalítica da noção do Pai da horda primeva e da consequente constituição social.

Por outro lado, percebe-se que estão presentes na cultura através de práticas como a interdição do incesto e a religião totêmica. O articulador desses conceitos é o Pai.

No texto Totem e Tabu,  a função do Pai é de impor limites. Portanto, o Pai, na psicanálise, representa o papel simbólico de autoridade.

Dessa forma, para pensar o pai em psicanálise, deve-se considerar a ideia do pai primitivo. Ele foi assassinado pelos filhos, e partir desse evento surgiu à instauração de uma ordem simbólica. Essa ordem se dá devido à ação dos filhos de matar o pai, e por consequência gerou-se um sentimento de culpa. O arrependimento de terem cometido o crime é que propiciou a obediência ao interdito da proibição do incesto, e que nos possibilita pensar na edificação dessa simbologia: pai, fundamento da função paterna. A paternidade para a psicanálise tem um papel primordial na estruturação do sujeito. É o legítimo representante da Lei. Inclusive é o que tem a atribuição de ser convocador do desejo do sujeito a ser formado.

A função paterna é importante na medida em que o representante do pai castra o filho, inaugurando neste a presença da falta, palco para sua constituição como sujeito desejante.

Já em relação à evolução do Pai, Freud entende que nada mais é do ponto de vista psicanalítico, do que um acordo com a civilização. Assim, ele entende que o pai primordial é um animal, é o chefe da horda transfigurado num mito animal, apresentado em totens nas culturas primitivas.

Segundo Freud, “quando tornou-se um mero símbolo, a ira paterna seria também simbolizada e continuada mesmo após a sua origem ter sido esquecida”.

Para Freud, a Psicanálise é um método de tratamento para perturbações ou distúrbios nervosos ou psíquicos, (provenientes da psique). O método psicanalítico dele consistia em estabelecer relações entre tudo aquilo que o paciente manifestava, desde conversas, comentários, até os mais diversos sinais revelados pelo inconsciente. Ele desenvolveu técnicas como associação livre, interpretação dos sonhos, além de pregar a existência de um inconsciente.

É importante ressaltar a presença da mitologia na obra de Freud. A Professora SPARANO, Maria Cristina de Távora (2017), fala o seguinte sobre mitos:

O mito é um relato de tempos ou fatos que a história não nos permite conhecer de outra forma; trata-se de épocas muito antigas e a autenticidade do relato não é posta em dúvida pela sociedade mais primitiva. Ao contrário, o mito tem valor sagrado: sua função é explicar o mundo”.

Segundo Sparano, Freud, baseando na sexualidade, fala que: “a Psicanálise liga-se a vida e às funções orgânicas, rejeitadas naquele momento pelo desconhecimento, do recalque e pelo desdém ao pulsional”.

Neste contexto é destacado que a sexualidade, objeto da Psicanálise, é a sexualidade infantil, cujas propriedades estão presentes na concepção biológica, mas não se reduzem a ela, salientando ainda que, assim como não podemos psicologizar a biologia, também não devemos biologizar a Psicanálise.

Para Freud, a Psicanálise é um método de tratamento para perturbações ou distúrbios nervosos ou psíquicos, (provenientes da psique). O método psicanalítico dele consistia em estabelecer relações entre tudo àquilo que o paciente manifestava, desde conversas, comentários, até os mais diversos sinais revelados pelo inconsciente. Ele desenvolveu técnicas como associação livre, interpretação dos sonhos, além de pregar a existência de um inconsciente.


Considerações Finais:

Ao estudarmos a Epistemologia da Psicanálise, que é a mesma coisa que Teoria Psicanalítica, depara-se com universo de complexidade. São diversas teorias que requer bastante atenção, perseverança para entendimento, uma delas é questão do Pai, na visão Freud, apresentado nesta pesquisa.

Vale lembrar que, a epistemologia trabalha com conceitos fundamentais, no caso da Psicanálise é o inconsciente. Uma das formas de manifestação do inconsciente são os sonhos. Portanto, o sujeito da Psicanálise é o sujeito do inconsciente. Já o objeto, talvez, seja uma relação de objetos que poderá se manifestar por meio do inconsciente, como ocorre nos casos das neuroses e nos atos falhos. 

Para refletir sobre estas questões, é importante pensar a cultura que Freud estava inserido. Ele era judeu, e esta população, principalmente naquela época tinha um forte referencial, pertinente ao modelo patriarcal.

Visando ilustrar esta ideia, diversos povos entendem que Deus é o Pai que está no céu, ou seja, aquele que tudo ver, que pode condenar ou salvar. Ele o criador de todas as coisas, é o Pai Primeiro, a causa incausada, o motor imóvel. Este Pai é puro amor, mas também é justiça. Desse modo, nasce à ideia de obediência, e, para quem não obedece, que peca, sofre as consequências. É punido. Essa punição, inclusive poderá gerar sentimento de culpa, se o sujeito desenvolver desejos proibidos. Vale lembrar que este pensamento poderá ocasionar doenças psicossomáticas. 

A repressão, porém, é um modo frágil de lidar com impulsos indesejáveis, pois eles voltarão de alguma maneira, sob a forma de neuroses. É por isso que, embora a religião tenha sido fundamental na infância da humanidade, ao reprimir instintos antissociais, aos poucos esse instrumento vai se mostrando ineficaz e gerando outros problemas.

 Para Freud, o amadurecimento da espécie humana exige um gradual abandono da religião e a substituição por um modo mais adulto de lidar com instintos destrutivos: a razão, à qual a religião se opõe claramente. Ao instituir um Pai transcendente que castiga quem transgride os tabus, a religião garantiu o mínimo de paz e convivência necessárias à produção do conforto e segurança que a civilização oferece.

Freud dizia que Deus era fruto do nosso sentimento de culpa por termos matado um pai primordial.  Será qual contexto que o levou a sistematizar seu pensamento por este ângulo? A religião seria fruto de um parricídio, do homem tentando expiar a culpa criando um Deus para cultuar.

Portanto, o Pai, para Freud é apresentado pela via do mito, o que lembra a cultura primitiva.

Neste contexto vale algumas reflexões: Qual o referencial ideal para função paterna, caso exista? Todos os pais são bons referenciais para os filhos? Deus é um Pai ideal, independente da forma idealizada pelo homem, de imaginar Ele?



Referencias bibliográficas:

FREUD, S. Totem e Tabu. Tradução Orizon Carneiro Muniz. Rio de Janeiro: Imago, 1974b. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas completas de Sigmund Freud, v. XIII).

SPARANO, Maria Cristina de Távora. Epistemologia da Psicanálise. Vitória, ES: UFES, 2017.





domingo, 8 de abril de 2018

Uma Reflexão sobre: Psicanálise, Fantasias Sádicas, Ética e Sublimação

  Autor: Ademilson Marques de Oliveira

A Psicanálise é uma área do conhecimento que estuda aquilo que está além da consciência, a metaconsciencia, ou seja, o que Freud chamou de inconsciente. A luz desse edifício do conhecimento, segundo a orientação do livro de Ética na Psicanálise, do professor Omar Peres, (2017), o que se entendem por fantasias sádicas e ética e sublimação?

Para Peres, a experiência ética do trabalho analítico, consiste em confrontar o sujeito do sintoma com o impossível do gozo. A satisfação absoluta do impossível do gozo poderia ser entendida como uma ilusão de reencontro com o objeto perdido deste sempre. Portanto, a questão toda não está na especificidade do objeto e sim na satisfação pulsional do sujeito.

Cottet, em 1999, p.152, diz o seguinte:

“A psicanálise não poderia preconizar nenhum “gozo sem limites, como temos visto, pois é preciso a limitação do prazer, o que permite ao sujeito aceder ao gozo. Mas que sua renúncia ao gozo desencadeie o exercício de uma crueldade contra si próprio, eis justamente o paradoxo que Freud, e depois Lacan, levaram em consideração para justificar a busca de uma ética do desejo”.

O sujeito do sujeito do desejo enquanto ser sexuado demanda um erotismo na experiência ética, no sentido de ter que se haver com as suas zonas erógenas. Isso acontece por meio da imaginação e da articulação simbólica, através da elaboração de uma fantasia. Ressalta-se que, a fantasia sádica nos apresenta claramente uma relação com o objeto do desejo em que o prazer pode ser realizado de todos os modos possíveis e impossíveis sem que o objeto perca sua beleza.

Para a Psicanálise, o sujeito sustenta seu desejo através da rearticulação significante no simbólico e no imaginário, por meio do mecanismo da sublimação. Para Lacan, a sublimação não faz desaparecer o objeto sexual.

Por outro lado, Freud em conformidade com Lacan, entende que a sublimação é pautada pela possibilidade de substituir o objeto da pulsão, que a rigor não tem objeto e, portanto, não está necessariamente fixada a nenhum em particular.

Na ética da psicanálise, enquanto experiência de análise, não há exemplos a ser seguido, não existe certeza de que aquilo que o sujeito estiver fazendo é realmente a coisa correta a ser feita. Portanto, Lacan, garante que não há garantia no Outro.

Fonte:

Perez, Daniel Omar. Ética da psicanálise. Vitória: Universidade Federal do Espírito Santo, Secretaria de Ensino a Distância, 2017.
 

Artigo: Uma Relação entre Ética e Psicanálise


Autor: Ademilson Marques de Oliveira



Resumo: Pretende-se fazer discutir e refletir sobre variados ideias filosóficas, da antiguidade a contemporaneidade. Para este estudo buscaremos fazer uma relação entre as éticas: filosófica e psicanalítica. Disponibilizaremos exemplos para ilustrar os conceitos, bem como faremos comentários, visando possibilitar a melhor compreensão possível ao leitor. Conclui-se que, á ética da psicanálise, busca colaborar nas relações entre analistas e analisados, mecanismos que possibilitam aos sujeitos, condições de relacionarem melhor consigo mesmo, com a natureza e com o mundo. Por outro lado, a ética filosófica, visa nortear os sujeitos, rumo a um “padrão social desejado”, em relação à cultura que está inserido, em razão de um bem comum.

Palavras chaves: Ética; Filosofia; Psicanálise; Análise.

Introdução:

A partir de uma análise reflexiva das concepções éticas, dialogando com diversos períodos históricos, da antiguidade a contemporaneidade, propõe-se a desenvolver uma pesquisa, onde buscaremos fazer uma relação entre Psicanálise e Ética.

A metodologia utilizada para este trabalho é a documental, onde foi realizado um levantamento bibliográfico de referências pertinente ao tema.

Trabalhemos com fontes secundarias como: sites, revistas, teses e dissertações. Para realização do trabalho foi feito fichamento de diversos textos. Finalmente foi construído o ensaio.

O nosso objetivo é provocar perturbação ao leitor, visando facilitar a emancipação do pensamento. Para isso, faremos algumas provocações: Existe verdade, verdadeira, do ponto de vista racional e filosófico? É possível questionar as verdades éticas? E para a ética na psicanálise, existe um modelo ideal, um exemplo a ser seguido? Há diferença entre a ética filosófica da psicanalítica? Qual a finalidade da psicanálise?

Discussão/Reflexão:

Alguns estudiosos entendem que a Psicanálise é bem mais que uma teoria de conceitos, ela é uma experiência onde é proposto um novo saber, diferente, e talvez, contra a tradição da ciência e da metafísica.

É importante ter em mente, que falar de ética é sempre muito prazeroso, pois é um tema que sempre inquietou o homem. Assim, na busca do prazer, provoca-se as seguintes indagações: Quais os pressupostos da ética filosófica em relação à ética psicanalítica?

Em referencia às questões éticas, a estudiosa, Cláudia Maria Bonifácio (2009), dessa forma responde:

A questão ética surge, portanto, no momento em que é feito um apelo a iniciativa do homem, pressuposto que sua ação não é condicionada pelo curso natural das coisas. Importa, pois, determinarmos o lugar da ética na atividade do homem. A dimensão ética da ação inscreve-se na temporalidade própria do existir: capacidade de iniciativa para forjar, por si mesmo, seu ser futuro: poder de agir, decisão fundada na deliberação.

A exigência ética implicada na ação é, precisamente, a determinação da vontade na realização daquilo que a existência contém em si enquanto ainda não realizado.

Segundo a historiografia, Sócrates deu um grande exemplo de ser ético, ao ser preso, acusado de corromper os jovens, teve oportunidade de fugir, mas não quis, pois, acreditava que esta ação infligiria sua consciência. 

Também, nesta esteira temos que considerar a ideia platônica, pois, Platão, através da reflexão sobre o mundo ideal em relação ao mundo real, ele apresenta uma proposta ética. Cláudia Maria Bonifácio (2009), fala o seguinte:

Platão foi o primeiro a enfrentar filosoficamente, isto é, compor um rigor de método e profundidade de reflexão, a questão do bem. A interrogação platônica visará a questão do “bem em si mesmo” e de como este “bem” se apresenta com bem-para-nós, ou seja, como bem na vida humana.

 Portanto, a ideia de bem, neste caso, é composta de três propriedades constitutivas: a proporção ou medida, a beleza e a verdade.

Já em Aristóteles, bem resumido, baseado na ética das virtudes, entende-se que as virtudes éticas do homem resultam no hábito: o que é próprio do homem é que ele é capaz de estabelecer fins que visem à justiça e, pelo exercício, de atualizar esse bem. Aristóteles é fundador da ética filosófica. Todo o esforço da ética enquanto disciplina autônoma será, a partir de Aristóteles, o de pensar, ante essa fragilidade e instabilidade que são inerentes ao ser-aí do homem, possibilidades de existência que possam pretender a uma certa constância, e, nesse sentido, pensar as práticas que merecem ser habituais, sem que se abandone, no entanto, as exigências de concretude que condicionam a vida prática do homem.

Por outro lado, na modernidade, Kant representa uma ruptura em relação a concepção prevalente do mundo antigo e medieval. A ética aristotélica apresentada como meio da felicidade (eudaimônica) e da finalidade (teleológica), onde a noção da natureza humana é determinante para atingir a excelência. Kant recusa a procura da felicidade ou qualquer outro bem como finalidade da ação humana. Sua crítica à possibilidade de conhecermos a essência (número) do mundo e das coisas determina a produção de uma ética do dever da ação humana.

Depois tivemos Hegel, foi ele que concebeu um dos sistemas éticos mais profundos da modernidade, reformulou a noção aristotélica e articulou-as aos problemas sociais e políticos que a modernidade havia posto.

Não se pode esquecer-se de Gadamer, este faz uma crítica ao formalismo kantiano, ele diz: postular a existência de valores a priori, retrocede a reflexão ética, a um tipo de rigor utópico.

Ainda, Gadamer entende que o saber prático, é um tipo de reflexão que pode iluminar sua intervenção em algum contexto. Este saber, não é, por sua vez, uma técnica, mas um saber moral.

Por outro lado, Hegel, ao tratar da substância ética, entende que o Estado tem seu direito, mas não é uma existência abstrata e sim concreta; somente esta existência concreta, e não dos múltiplos pensamentos universais que se tem por preceitos morais, pode ser princípio de sua ação e de sua conduta. Como, muitas das vezes, o assunto sobre a moralidade, à natureza do Estado e a relação com o ponto de vista moral é tratado com superficialidade, acaba tendo uma impressão errada sobre a política, sempre achando que ela se opõe à moral. 

Observando os pensamentos de Hegel sobre a consciência substancial, ele não nega propriamente o ponto de vista moral, mas apenas não concede a este a determinação do que seja o bem comum. Como bem exprimiu Robert “Hegel afirmou que o que é um bem para os homens há de estar em relação com os outros, dentro de certas instituições”. 

Substância ética é construída a partir da atividade prática daqueles que pertencem à comunidade política, e tem o dever reconhecer a liberdade e a racionalidade de cada indivíduo, ou seja, a forma de agir de cada um para manter o bem comum. Seguindo a linha hegeliano, o simples pertencer uma comunidade política não basta para assegurar a vida ética desta comunidade, apenas com a racionalidade das instituições que será requerida a justificação ética de uma sociedade. 

Em outras palavras, a razão da existência da ética que constrói uma base sólida nas instituições, do mesmo modo que ela está inserida nas reivindicações normativas que fazem o equilíbrio da relação entre direitos e deveres do poder político de um Estado. 

Para Hegel não basta que os indivíduos cumpram seu papel civil dentro dos princípios das leis, para que as exigências da racionalidade que caracterizam a vida social e política moderna sejam satisfeitas. Todo sujeito que pertence a uma comunidade política, a um Estado, age de forma livre para com suas ações, claro que a consciência de direitos e deveres interfere no seu modo de agir. Ele ainda acredita ter uma vida baseada na ética, seja na atmosfera social como política, tudo deve ser fundamentado na ideia de liberdade, e que à tradição, o sentimento cívico ou os princípios religiosos não intervêm nas ações dos indivíduos. 

Entretanto, na mesma linha de Kant, Hegel afirma que essas liberdades que todos possuem para traçar suas ações devem estar dentro da lei. Se não for assim, não será válido eticamente falando, o sujeito deve ser autoconsciente da lei e que deve se submeter, consciente do fato de que esta validade é sempre coletivamente posta e historicamente instituída.

A visada ética, defendida por Ricouer, é, em sua amplitude, a "visada da vida boa" como e pelos os outros em instituições justas. O primado da ética sobre a moral, segundo a análise de Ricouer, significa propriamente uma preponderância da visada, que compreende o aspecto reflexivo do agente ao visar o bem, o aspecto teleológico da ação, sobre a norma, a qual se liga à perspectiva deontológica.

A moral refere-se à relação do agente face à lei moral, a qual exige desde uma ação que não flutue ao sabor de suas preferências ou inclinações pessoais, mas uma ação determinada pelo respeito ao dever, ao que deve ser feito.

A ética implica, por sua vez, a capacidade do sujeito da ação de engajar uma visada, ou seja, de pretender a um fim bom. Assim pode-se dizer que a ética não é o contrário da moral. O contrário da moral é o imoral.

Ricouer sublinha, no entanto, que a dimensão da universalidade não basta para caracterizar a moralidade kantiana.

É importante perceber que a unidade constituída pela  visada ética e o campo das relações sociais é que irão tecer o horizonte da vida boa, que não é obra solitária de indivíduos isolados. Ela implica, evidentemente, a ligação do indivíduo a tradição, isto é, ao conjunto dos valores e normas coletivamente sancionadas e cristalizadas nas instituições, ou seja, a um Etchos.

Gadamer relaciona a ética à historicidade através da determinação política e social do sujeito, isto é, seu enraizamento num contexto social e político determinado, não apenas o formou tal qual ele é, mas é este quem lhe fornece o conteúdo mesmo de sua ação e é aí que ela será reconhecida como ação ética.

Porém, no caso da ética na psicanálise deve se ater em si mesmo, não no outro.  Ela está ligada a nossa história pessoal. O sujeito precisa de se autoconhecer e se compreender para guiar o seu agir no mundo. Aqui, percebe-se às ideias socráticas: “conheça-te a ti mesmo”.

Diante de várias reflexões acerca da ética filosófica, nota-se que ela está ligada à virtude, à prudência, ao dever, à felicidade e à justiça.

Por outro lado, a ética na Psicanálise, baseado nas orientações de Freud, está de certa forma conectada ao inconsciente, onde o sujeito tem certos comportamentos, sem que o próprio o perceba.

Em alguns casos, estes comportamentos são aéticos, que talvez, possa ser considerados desvio de caráter. São bastantes presentes nos atos falhos. Ás vezes nos lapsos de memória, ou até mesmo, no ato de falar sem querer, o inconsciente acaba por trair o consciente.

Neste caso, o analista tem um modelo, ou técnica, ou um método para tratar o sujeito-paciente? Não tem! Considerando que, á ética na psicanálise está voltada para a experiência da análise, e não para prescrições. Portanto, não há determinação de estilo, de ideal, de exemplos a ser seguido, de certezas de que aquilo que o sujeito estiver fazendo é coisa certa a se fazer.

Copjec, 2006, p.23, afirma que: "a Ética da Psicanálise diz respeito à relação do sujeito com suas zonas erógenas, com suas pequenas partes do ser”. Na mesma obra, na pág. 74, ele escreve: 

"a ética da psicanálise não se preocupa com o outro - como é o caso de numerosos trabalhos contemporâneos de ética - senão com o sujeito que se metamorfosea no momento em que se encontra com o real de acontecimento inesperado”. 

Portanto, para Peres, a ética da psicanálise adere o argumento de Kant, segundo o qual o progresso ético não tem nada a ver com a forma do progresso que promove a indústria moderna, ou o serviço do bem, se não que se trata de um assunto de transformação pessoal, da necessidade subjetiva de ir para além de si mesmo.

Desta forma, o professor, Daniel Omar Peres (2017), fala que:

a psicanálise se ocupa com a experiência ética onde as condutas humanas seriam determinadas pela relação do sujeito com os seus próprios desejos, onde esses desejos seriam da ordem do irrepresentável e mobilizariam o sujeito permanentemente”.


Considerações Finais:

Assim, entendemos que á ética da psicanálise, busca colaborar nas relações entre analistas e analisados, mecanismos que possibilitam condições de relacionarem melhor consigo mesmo, com a natureza e com o mundo. 

 Já em relação à Filosofia há variados tipos de éticas. Portanto, sua aplicação é importante, no sentido de nortear os sujeitos, rumo a um padrão social desejado, em relação à cultura que está inserido. Isso é visível nos diversos códigos de ética, referente aos conselhos de classes, por exemplo: Conselho de Medicina, de Fisioterapia, de Engenharias, de Advogados, de Psicologia, de Farmácia, de Enfermagem, além de outras organizações políticas e sociais.

Por outro lado, a ética na psicanálise está voltada para a experiência da análise, e não para prescrições. Portanto, não há determinação de estilo, de ideal, de exemplos a ser seguido, de certezas de que aquilo que o sujeito estiver fazendo é coisa certa a se fazer.

Referencias Bibliográficas:

ARISTÓTELES. Ética a Nicômacos, 3. Ed. Tradução do grego, introdução e notas de Mario gama Kury. Brasília: UnB, 1992.

Perez, Daniel Omar. Ética da psicanálise. Vitória: Universidade Federal do Espírito Santo, Secretaria de Ensino a Distância, 2017.

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA. Apostila de Ética. Licenciatura em Filosofia. Brasília: EAD, 2007.

UFES. Curso Especialização em Filosofia e Psicanálise. 2017, Vitória. Disponível em: <http://www.especializacao.aperfeicoamento.ufes.br/course/view.php?id=296>. Acesso em: 24 de março de 2018.


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