Autor: Ademilson Marques de
Oliveira
professorfilosofoademilson@gmail.com
Resumo:
O presente artigo versará sobre a maneira de Sócrates
entender o mundo a partir da análise do diálogo de Sócrates e Critão, relatado
por Platão. A metodologia utilizada é o levantamento de dados bibliográficos,
onde posteriormente foi feito um fichamento e finalmente a construção do texto.
Pretende-se por meio de uma proposta ética relacionada com a psicanálise,
entender a maneira de o filósofo compreender o universo e, de se relacionar com
as pessoas, de viver a ética, a boa conduta e a justiça, a partir dos conceitos
psicanalíticos freudianos. Conclui-se que a arte do viver bem, se dá com a
aceitação da identidade, de saber se relacionar consigo mesmo, com outro, com
natureza e com o mundo. Isso previne doenças de características emocionais,
passionais, tais como: sintomas psicossomáticos, neuroses e outras.
Palavras chaves: Sócrates; Critão;
Ética; Freud; Psicanálise.
Introdução:
A
obra relatada por Platão, Diálogos Platônicos, em que mostra uma conversa entre
Sócrates e Critão, revela que o pensamento do filósofo não mudou diante das
circunstâncias que estava vivendo, ao ser preso, em uma cela, em Atenas.
Aproximou
Sócrates as opiniões de Critão com as da multidão, quando este, numa tentativa
desesperada de fazer o amigo mudar de ideia, na sua decisão de permanecer preso.
Critão, inconformado com o acontecimento, propôs a Sócrates a possibilidade de fuga.
Porém,
para o Filósofo, levar a cabo a paga do suborno e a fuga seria negar toda uma
vida de justiça e virtude. Sendo assim, é fácil deduzir a ética socrática.
Alvo
deste duplo conhecimento será a consecução da verdade que constituirá a norma
suprema do reto proceder. Proceder de conformidade com o que se nos apresenta
como verdade no foro da consciência, isto é, com a convicção. Portanto: ser
verdadeiro, eis o critério da conduta, critério que se apresenta sob duas
formas: “Forma objetiva: procede sempre em todas as relações da vida de
conformidade com a verdade”.
Distingue-se
da moral como parte do todo, compreendendo o direito somente as leis cuja
violação põe em perigo a ordem social. Distingue-se ainda pelo elemento força
que se lhe acrescenta como sanção; o direito é moral sancionada pela força,
assegurada coativamente pelo poder público.
Filosofar
é aprender a morrer: São palavras de Sócrates.
A
maneira de Sócrates entender o mundo nos permeia até hoje, pois diversas
pessoas, ainda defendem a “boa conduta”, e buscam viver norteados pelos
princípios voltados para a ética e a justiça.
Para
a realização desse artigo pensou-se a seguinte questão problema: Como analisar
o diálogo de Sócrates com Critão baseados nos conceitos psicanalíticos?
A
metodologia a ser utilizada na elaboração deste artigo será a documental, onde
efetuaremos um levantamento bibliográfico de referências pertinente ao tema.
Ressalta-se
que esse trabalho é de relevância para todos que buscam um conhecimento
filosófico e reflexivo, voltado para a ética na psicanálise, ou seja, ligado
aos conceitos psicanalíticos.
Resultados e discussão:
A
obra relatada por Platão, Diálogos Platônicos, em que mostra uma conversa entre
Sócrates e Critão, revela que o pensamento do filósofo não mudou diante das
circunstâncias que estava vivendo. Apesar de seu amigo Critão lhe oferecer
ajuda para fugir da cadeia, Sócrates mostrou o quanto seria injusto aceitar a
proposta, pois para ele estaria negando seus próprios ensinamentos.
Para
Sócrates a opinião da multidão não importava tanto quanto o agir, pois para ele
o mais importante era não enganar a si mesmo. O compromisso para com a cidade
que ele tanto admirava, as Leis, as quais ele jurou cumprir e a maneira em que
acreditava não o deixava mudar de ideia. Aqui percebe-se a presença dos valores
morais tradicionais.
Freud
propõe justamente uma inversão de valores. Para ele será preciso uma
resistência, sim, mas ao sacrifício. Resistir ao gozo sacrifical como
imperativo: Não te sacrificarás! Esse é ponto de partida da transvaloração
freudiana da tradicional moral.
Um
dos objetivos da psicanálise é ajudar as pessoas a se relacionarem melhor
consigo mesmo, com o outro, com a natureza e com o mundo. Neste sentido fica
visível que, Sócrates estava, talvez, na plenitude do equilíbrio de mente e
copo.
Para
Sócrates que sentido seria fugir da prisão para não morrer e fazer o contrário
de tudo que ele pensava e ensinava? Quais os ensinamentos que teria para passar
para os outros a partir daquele episódio? Nem seus filhos poderiam educá-los.
Pensando no melhor para eles e para sua própria consciência decidiu ficar e
aguardar a sentença final.
É
importante ter em mente, que mesmo diante destes questionamentos, em relação
aos conceitos psicanalíticos, o analista não pode emitir um juízo,
rigorosamente falando, ele não pode ter opinião própria, nem mesmo julgamento.
Segundo,
o professor Daniel Omar Peres, no livro Ética da Psicanálise, de 2017, “O
analista não está para saber ou entender, muito menos para explicar, mas para
possibilitar um efeito perturbador”.
Neste
diálogo, interpreta-se que, Sócrates aproximou as opiniões de Critão com as da
multidão, quando este, numa tentativa desesperada de fazer o amigo mudar de ideia
na sua decisão. Enfim, para o presidiário, acatar as opiniões de Critão que
postulava o plano de fuga seria o mesmo que cometer uma violência contra a
pátria.
Para
a Psicanálise, na visão de Peres, “aquelas figuras de tradição como modos de
apresentação ideal, em que a obediência ao mandamento se coloca no estatuto do
valor da virtude”.
E,
quanto à flexibilidade das Leis, nunca houve dúvidas: sempre se permitiu a
qualquer um dissuadi-las por vias legais, caso notasse o erro, também emigrar,
quem não quisesse submeter. Ora, ao fujão ateniense juntaria, nas condições
imaginadas, o agravante de ter vivido uma vida toda no torrão natal como um
verdadeiro turrão: ou cego ou coxo sem jamais dali tirar as sandálias, sem nem
pensar em mudar-se a outra cidade de seu agrado, nem a Creta ou a Esparta,
vistas por ele como de boas leis. Assim, pela dialética socrática aplicada a
ele mesmo, somos levados a crer que Sócrates gostava tanto de Atenas quanto de
suas Leis, a ponto de submeter à soberania delas para gerar os seus filhos,
assim como ele próprio fora educado é por intermédio das mesmas sentenças.
Qualquer
tentativa de destrui-las devia ser entendida, segundo essas condições, como
injustiça, como uma desforra, à vista de gramáticas investidas da Lei sobre o
réu. Note-se a retribuição vergonhosa de injustiça com injustiça, defendida por
Critão e a qual foi trazida à luz pelo exame criterioso do filósofo sereno e
correto.
O
conhecimento é a finalidade do mundo. Antes de qualquer coisa, duas são as
regras fundamentais da psicanálise, visando de uma boa qualidade de vida e
saúde mental: conhecer-te a ti mesmo; segunda: conhecer a natureza.
Talvez,
seja a partir desse duplo conhecimento, que o sujeito consegue tomar as
melhores decisões na vida, pertinente aquilo que ele acredita, sem se deparar
com sintomas de caráter passional, tais como: histeria, doenças
psicossomáticas, neuroses e angustias.
Alvo
deste duplo conhecimento será a consecução da verdade que constituirá a norma
suprema do reto proceder. Mas, a verdade não a possuímos por inteira e
completa. Então, o que fazer? Proceder
de acordo com que a natureza nos oferece... Proceder de conformidade com o que
nos apresenta como verdade no foro da consciência, isto é, com a convicção.
Portanto: ser verdadeiro, eis o critério da conduta ética em todas as
profissões, critério que se apresenta sob duas formas: “Forma objetiva: procede
sempre em todas as relações da vida de conformidade com a verdade. Forma
subjetiva: procede sempre e em todas as relações da vida de conformidade com as
tuas convicções” (Brito, 1905:25).
Filosofar
é aprender a morrer: São palavras de Sócrates. Por outro lado, Freud, afirma,
em seu texto reflexões para os tempos de guerra e morte (1915 vol. XIX): “se
queres suportar a vida, prepara-se para a morte”. Há bastantes entendimentos
que a pior morte, muitas das vezes são aquelas que se vivem em vida. Será que
há vivos mortos? É bem capaz que existam bastantes, todos aqueles que vivem,
mas não têm ideais, sonhos, motivações, animações, ou seja, espírito jovem, de
certa forma, eles estão parcialmente mortos.
A
maneira de Sócrates entender o mundo nos permeia até hoje, pois as pessoas que
lida bem com sua identidade, com seus ideais, vive uma realidade melhor, pois
tendem a prevenir o surgimento de doenças de características emocionais.
Considerações Finais:
Conclui-se
que a arte do viver bem, se dá com a aceitação da identidade, de saber se
relacionar consigo mesmo, com outro, com natureza e com o mundo. Isso previne
doenças de características emocionais, passionais, tais como: sintomas
psicossomáticos, neuroses e outras.
REFERÊNCIA BIBIOGRÁFICA:
BOCCA, Francisco Verardi. Paixões
e Psicanálise: Dimensões Modernas da Natureza Humana. Vitória-ES: UFES,
Secretaria de Ensino à Distância, 2017.
CORNFORD,
F.M.: Estudos de Filosofia Antiga –
Sócrates, Platão, Aristóteles, trad. Maria Angelina Ródo. Coimbra:
Atlântida Editora, 1969.
MONDOLFO,
RODOLFO: Sócrates, trad. Lycurgo
Gomes da Motta. 2ª ed. São Paulo: Editora Mestre Jou, 1967.
JAIME,
Jorge: História da Filosofia no Brasil
– volume 1. Petrópoles, RJ: Vozes; São Paulo, SP: Faculdades Salesianas, 1997.
PERES, Daniel Omar. A Ética da
Psicanálise. Vitória-ES: UFES, Secretaria de Ensino à Distância, 2017.