Autor:
Ademilson Marques de Oliveira
A função do pai em psicanálise e suas
relações com a cultura, baseado na obra Totem e Tabu, segundo Freud
Resumo:
Abordaremos neste
texto uma reflexão sobre a obra Totem e Tabu de Freud. Assim, pretendemos
explicar como o Pai da Psicanálise concebeu o pai e suas funções sociais, na
visão psicanalítica, e buscaremos relacionar a função do pai e suas relações
com a cultura. Para realização deste trabalho foi feito fichamento da obra em
estudo e posteriormente o texto foi construído. Esta pesquisa é relevante para
todos que buscam conhecimento em Psicanálise, na visão freudiana. Concluiu-se
com este trabalho que os recalques, os sentimentos de culpa e as repressões
podem desenvolver sintomas passionais, que poderá gerar neuroses e doenças
emocionais. Portanto, o ponto chave da arte do viver bem é amar. Quem ama
relaciona melhor consigo mesmo, com outro, com a natureza e com o mundo.
Palavras Chaves: Psicanálise;
Freud; Totem e Tabu; Cultura.
Introdução:
É
sempre bastante instigante caminhar na busca do conhecimento. Portanto, quando
navegamos no universo do desejo inconsciente não é diferente. Sócrates defendia
o amor pelo saber, aqui o nosso desejo é demonstrar amor pela Psicanálise.
Desta
forma, para este trabalho, nossa proposta é fazer uma relação da função do Pai
em Psicanálise e suas relações com a cultura, segundo Freud, referente à obra
“Totem e Tabu”.
Assim,
para nossa pesquisa formula-se a seguinte questão problema: Como podemos
relacionar a cultura com a função do Pai, na visão freudiana?
A
metodologia utilizada é a referência bibliográfica, com base nas referencias
citadas no trabalho. Ressaltamos que fizemos fichamentos das obras, e,
posteriormente produzimos o texto.
Este
trabalho é de relevância para todos que buscam conhecimentos da obra Totem e
Tabu, de Freud, em relação à função do Pai, e suas relações
com a cultura.
Discussão/Reflexão/Relação:
No
texto Totem e Tabu de Freud fica clara a função primeira do pai. Esta
atribuição é a de autoridade, aquele que impõe limites, ou seja, o que
estabelece as regras. Por esta via podemos entender o Pai, na Psicanálise, como
representante simbólico da autoridade. Esta obra já tem aproximadamente um século de
publicação, conforme informações encontradas:
Totem e Tabu foi traduzido em diversas línguas além
do inglês, durante a vida de Freud: em húngaro (1919), espanhol (1923),
português (s/data), francês (1924), japonês (duas vezes, 1930 e 1934) e
hebraico (1939). http://conexoesclinicas.com.br/wp-content/uploads/2015/01/freud-sigmund-obras-completas-imago-vol-13-1913-1914.pdf
Diante desta análise indaga-se: qual a diferença em
Tabu e Totem? Como a função do Pai, no ponto de vista da psicanálise, se
relaciona com a cultura? Freud diz que:
A análise dos tabus é apresentada
como um esforço seguro e exaustivo para a solução do problema. A investigação
sobre o totemismo não faz mais que declarar que ‘isso é o que a psicanálise
pode, no momento, oferecer para a elucidação do problema do totem’. ‘Tabu’ é um termo
polinésio. O significado de ‘tabu’, como
vemos, diverge em dois sentidos contrários. Para nós significa, por um lado,
‘sagrado’, ‘consagrado’, e, por outro, ‘misterioso’, ‘perigoso’, ‘proibido’,
‘impuro’. http://conexoesclinicas.com.br/wp-content/uploads/2015/01/freud-sigmund-obras-completas-imago-vol-13-1913-1914.pdf
Na mesma obra, Freud explica os Totens desse modo:
Os totens são, pelo menos, de três espécies: (1) o
totem do clã, comum a todo um clã, passando por herança de geração a geração:
(2) o totem do sexo, comum seja a todos os homens ou a todas as mulheres de uma
tribo, com exclusão, em cada caso, do sexo oposto: (3) o totem individual,
pertencente a um indivíduo isolado, sem passar aos seus descendentes. Os dois
últimos tipos de totem não se comparam, em significação, ao totem do clã. A
menos que estejamos inteiramente enganados, constituem desenvolvimentos
posteriores e são de pouca importância para a natureza essencial do totem. O
totem do clã é reverenciado por uma corporação de homens e mulheres que se
chamam a si próprios pelo nome do totem, acreditam possuírem um só sangue,
descendentes que são de um ancestral comum, e estão ligados por obrigações
mútuas e comuns e por uma fé comum no totem. O totemismo, assim, constitui
tanto uma religião como um sistema social. Em seu aspecto religioso, consiste
nas relações de respeito e proteção mútua entre um homem e o seu totem. http://conexoesclinicas.com.br/wp
content/uploads/2015/01/freud-sigmund-obras-completas-imago-vol-13-1913-1914.pdf
A partir da obra Totem e Tabu, um dos textos
fundamentais de Freud, é possível que façamos reflexões como
conceitos de vida e morte, culpa e gozo. Ele nos oferece uma versão
psicanalítica da noção do Pai da horda primeva e da consequente constituição
social.
Por
outro lado, percebe-se que estão presentes na cultura através de práticas como
a interdição do incesto e a religião totêmica. O articulador desses conceitos é
o Pai.
No
texto Totem e Tabu, a função do Pai é de impor limites. Portanto, o Pai,
na psicanálise, representa o papel simbólico de autoridade.
Dessa
forma, para pensar o pai em psicanálise, deve-se considerar a ideia do pai
primitivo. Ele foi assassinado pelos filhos, e partir desse evento surgiu à
instauração de uma ordem simbólica. Essa ordem se dá devido à ação dos filhos
de matar o pai, e por consequência gerou-se um sentimento de culpa. O
arrependimento de terem cometido o crime é que propiciou a obediência ao
interdito da proibição do incesto, e que nos possibilita pensar na edificação
dessa simbologia: pai, fundamento da função paterna. A
paternidade para a psicanálise tem um papel primordial na estruturação do
sujeito. É o legítimo representante da Lei. Inclusive é o que tem a
atribuição de ser convocador do desejo do sujeito a ser formado.
A função paterna é importante na
medida em que o representante do pai castra o filho, inaugurando neste a
presença da falta, palco para sua constituição como sujeito desejante.
Já em relação à
evolução do Pai, Freud entende que nada mais é do ponto de vista psicanalítico,
do que um acordo com a civilização. Assim, ele entende que o pai primordial é
um animal, é o chefe da horda transfigurado num mito animal, apresentado em
totens nas culturas primitivas.
Segundo
Freud, “quando tornou-se um mero símbolo, a ira paterna seria também
simbolizada e continuada mesmo após a sua origem ter sido esquecida”.
Para Freud, a
Psicanálise é um método de tratamento para perturbações ou distúrbios nervosos
ou psíquicos, (provenientes da psique). O método psicanalítico dele consistia
em estabelecer relações entre tudo aquilo que o paciente manifestava, desde
conversas, comentários, até os mais diversos sinais revelados pelo
inconsciente. Ele desenvolveu técnicas como associação livre, interpretação dos
sonhos, além de pregar a existência de um inconsciente.
É importante ressaltar a presença da mitologia na obra de
Freud. A Professora SPARANO, Maria Cristina de Távora (2017), fala o seguinte sobre mitos:
“O mito é um relato de tempos ou fatos
que a história não nos permite conhecer de outra forma; trata-se de épocas
muito antigas e a autenticidade do relato não é posta em dúvida pela sociedade
mais primitiva. Ao contrário, o mito tem valor sagrado: sua função é explicar o
mundo”.
Segundo Sparano, Freud, baseando na sexualidade, fala
que: “a Psicanálise liga-se a vida e às funções orgânicas, rejeitadas naquele
momento pelo desconhecimento, do recalque e pelo desdém ao pulsional”.
Neste contexto é destacado que a sexualidade, objeto da
Psicanálise, é a sexualidade infantil, cujas propriedades estão presentes na
concepção biológica, mas não se reduzem a ela, salientando ainda que, assim
como não podemos psicologizar a biologia, também não devemos biologizar a
Psicanálise.
Para Freud, a
Psicanálise é um método de tratamento para perturbações ou distúrbios nervosos
ou psíquicos, (provenientes da psique). O método psicanalítico dele consistia
em estabelecer relações entre tudo àquilo que o paciente manifestava, desde
conversas, comentários, até os mais diversos sinais revelados pelo
inconsciente. Ele desenvolveu técnicas como associação livre, interpretação dos
sonhos, além de pregar a existência de um inconsciente.
Considerações
Finais:
Ao estudarmos a Epistemologia da
Psicanálise, que é a mesma coisa que Teoria Psicanalítica, depara-se com
universo de complexidade. São diversas teorias que requer bastante atenção,
perseverança para entendimento, uma delas é questão do Pai, na visão Freud,
apresentado nesta pesquisa.
Vale lembrar que, a epistemologia
trabalha com conceitos fundamentais, no caso da Psicanálise é o inconsciente.
Uma das formas de manifestação do inconsciente são os sonhos. Portanto, o
sujeito da Psicanálise é o sujeito do inconsciente. Já o objeto, talvez, seja
uma relação de objetos que poderá se manifestar por meio do inconsciente, como
ocorre nos casos das neuroses e nos atos falhos.
Para refletir sobre estas
questões, é importante pensar a cultura que Freud estava inserido. Ele era
judeu, e esta população, principalmente naquela época tinha um forte
referencial, pertinente ao modelo patriarcal.
Visando ilustrar esta ideia,
diversos povos entendem que Deus é o Pai que está no céu, ou seja, aquele que
tudo ver, que pode condenar ou salvar. Ele o criador de todas as coisas, é o Pai
Primeiro, a causa incausada, o motor imóvel. Este Pai é puro amor, mas também é
justiça. Desse modo, nasce à ideia de obediência, e, para quem não obedece, que
peca, sofre as consequências. É punido. Essa punição, inclusive poderá gerar
sentimento de culpa, se o sujeito desenvolver desejos proibidos. Vale lembrar
que este pensamento poderá ocasionar doenças psicossomáticas.
A repressão, porém, é um modo
frágil de lidar com impulsos indesejáveis, pois eles voltarão de alguma
maneira, sob a forma de neuroses. É por isso que, embora a religião tenha sido
fundamental na infância da humanidade, ao reprimir instintos antissociais, aos
poucos esse instrumento vai se mostrando ineficaz e gerando outros problemas.
Para Freud, o
amadurecimento da espécie humana exige um gradual abandono da religião e a
substituição por um modo mais adulto de lidar com instintos destrutivos: a
razão, à qual a religião se opõe claramente. Ao instituir um Pai transcendente
que castiga quem transgride os tabus, a religião garantiu o mínimo de paz e
convivência necessárias à produção do conforto e segurança que a civilização
oferece.
Freud dizia que Deus era
fruto do nosso sentimento de culpa por termos matado um pai primordial.
Será qual contexto que o levou a sistematizar seu pensamento por este ângulo? A
religião seria fruto de um parricídio, do homem tentando expiar a culpa criando
um Deus para cultuar.
Portanto, o Pai, para Freud é
apresentado pela via do mito, o que lembra a cultura primitiva.
Neste contexto vale algumas reflexões:
Qual o referencial ideal para função paterna, caso exista? Todos os pais são
bons referenciais para os filhos? Deus é um Pai ideal, independente da forma
idealizada pelo homem, de imaginar Ele?
Referencias
bibliográficas:
FREUD, S. Totem e Tabu. Tradução Orizon Carneiro Muniz.
Rio de Janeiro: Imago, 1974b. (Edição Standard Brasileira das Obras
Psicológicas completas de Sigmund Freud, v. XIII).
SPARANO,
Maria Cristina de Távora. Epistemologia
da Psicanálise. Vitória, ES: UFES, 2017.
http://conexoesclinicas.com.br/wp-content/uploads/2015/01/freud-sigmund-obras-completas-imago-vol-13-1913-1914.pdf. Acessado em: 18/04/2018.
http://www.especializacao.aperfeicoamento.ufes.br. Acessado em: 18/04/2018.