sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

As consequências do consumo do álcool durante a gestação

Autor: Ademilson Marques de Oliveira


O consumo de álcool durante a gestação é um tema que tem sido amplamente estudado, mas ainda há muitas perguntas sem resposta sobre suas consequências no desenvolvimento infantil. É incontestável que o uso de álcool durante a gravidez é uma das principais causas evitáveis de defeitos de nascimento e de alterações no desenvolvimento da criança. Portanto, é essencial que as gestantes evitem o consumo de álcool para proteger a saúde e o bem-estar do bebê. É importante conscientizar as mulheres sobre os riscos associados ao consumo de álcool durante a gravidez e fornecer apoio e recursos para ajudá-las a fazer escolhas saudáveis para si mesmas e para seus filhos.

Apesar de existir a diminuição do consumo do álcool durante a gravidez, cada vez mais aumenta o consumo pela população feminina e, em consequência disso, grande parcela de mulheres e seus fetos são expostos a doses variáveis desse agente. Estima-se que o uso frequente seja inferior a 4% ao final da gravidez. As bebedoras moderadas têm maior chance de parar ou reduzir seu consumo durante o período de gestação, porém, entre as bebedoras pesadas, dois terços diminuem o consumo e um terço continuam a abusar do álcool durante toda a gestação.

Esse fato é preocupante, principalmente quando se sabe que o consumo de álcool durante a gestação envolve grande risco, devido à embriotoxicidade e teratogenicidade fetal que a ele estão relacionadas, transformando-se em sério problema de saúde pública.

O álcool, quando ingerido pela gestante, atravessa a barreira placentária e faz com que o feto receba as mesmas concentrações da substância que a futura mãe. Porém, a exposição fetal é maior, devido ao fato de que o metabolismo e eliminação são mais lentos, fazendo com que o líquido amniótico permaneça impregnado de álcool não modificado em acetaldeído. Essa situação é ocasionada pela ausência de enzimas em quantidade necessária para a degradação de tais substâncias.

Entre as complicações pré-natais, provocadas pelo consumo de álcool, identificam-se anomalias físicas e disformismo no primeiro trimestre, aumento de duas a quatro vezes na incidência de abortamento espontâneo no segundo trimestre, fatores comprometedores durante o parto, como risco de infecções, deslocamento prematuro de placenta, hipertonia uterina, trabalho de parto prematuro e líquido amniótico meconial.

A ingestão de álcool durante a gravidez pode acarretar uma série de problemas na formação do feto. A manifestação mais severa é a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) que causa desde malformações craniofaciais, retardamento no crescimento até a incapacidade de desenvolvimento mental.

O fato de um grande número de mulheres beberem socialmente e a maioria das gestações não serem planejadas aumentam o risco de ocorrer a SAF. "Pode haver um desconhecimento do estado gestacional nos primeiros meses. Isso implica muitas vezes na exposição do embrião ao etanol, principalmente no período mais crítico e sensível da gestação", explica Cristiana Corrêa, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Geralmente, a incidência da SAF oscila entre 0,4 a 3,1 casos por 1000 nascimentos. Entre os filhos de mães alcoolistas estima-se que 30% a 40% dos recém nascidos venham a apresentar a doença. Ainda não foi definida a quantidade mínima de álcool ingerida capaz de afetar o feto.

As maiores consequências da SAF são: restrição no crescimento, com decréscimo inferior a 10% no peso e no comprimento; envolvimento do Sistema Nervoso Central, apresentando, entre outros problemas, disfunção comportamental, hiperatividade e dificuldade de adaptação social, e anomalias faciais.

A prevenção da SAF, na opinião de Corrêa, só será possível através de um sistema articulado de intervenção terapêutica na mãe alcoolista, programas educacionais nas comunidades, identificação precoce da doença e acompanhamento das crianças afetadas pela síndrome.

Com relação ao conhecimento dos efeitos do álcool sobre o feto, pode-se perceber que o conhecimento e as concepções relatadas pelas gestantes relacionam-se mais ao senso comum da população e às experiências vividas, do que com o preparo formal por parte dos profissionais de saúde, embora não saibam justificar suas respostas, as gestantes acreditam que o álcool traz problemas tanto para mãe quanto para o feto, sendo que, dentre os problemas atribuídos ao álcool, durante a gestação, os prejuízos ao cérebro e ao desenvolvimento é o que mais percebemos nas vítimas dessas drogas.

Observando o consumo de álcool das gestantes percebe-se que elas não informações suficiente sobre as questões relacionadas ao álcool durante o acompanhamento pré-natal. Portanto, nos possibilita a inferir que o uso e abuso de álcool entre as grávidas esteja sendo negligenciado pelos profissionais de saúde, então é necessário de maior atenção e preparo, através de orientações e esclarecimentos, sobre os prejuízos do álcool e do alcoolismo para a gestante e o feto, uma vez que esses são uma das poucas consequências atribuídas ao álcool que se pode prevenir.


REFERÊNCIAS 

1- Mari, J.J.; Razzouk, D.; Peres, MFT; Porto, JAD. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar. 1 ed. São Paulo: Manole, 2002, p. 67-72.
2- FABRI, C. E. Desenvolvimento e validação de um instrumento de rastreamento do uso nocivo de álcool durante a gravidez (T-ACE). 2002. Dissertação (Mestrado) em Medicina Social, Universidade de São Paulo (USP) Ribeirão Preto.










Brasil Antimanicomial: Construindo um Novo Paradigma de Saúde Mental

Autor:  Ademilson Marques de Oliveira

Desde 1987, o Brasil vem sendo palco do movimento de luta antimanicomial, que busca uma abordagem mais humanizada no tratamento das pessoas que sofrem de problemas mentais. 
No dia 18 de maio é celebrado o dia nacional desse movimento, com diversas ações sendo realizadas em locais públicos, na mídia e nos ambientes de trabalho para conscientizar a sociedade sobre os avanços, desafios e obstáculos no campo da saúde mental. Apesar dos progressos conquistados com a reforma psiquiátrica, ainda existem cerca de 40 mil pessoas internadas em hospitais psiquiátricos no Brasil, a maioria em instituições privadas financiadas com recursos públicos. Muitas vezes essas pessoas se encontram em situações de abandono e são submetidas a tratamentos que violam seus direitos humanos. 
O movimento antimanicomial propõe uma mudança no paradigma de internações prolongadas em hospitais psiquiátricos distantes dos centros urbanos. Ao invés disso, defende a criação de dispositivos próximos às residências das pessoas, formando uma rede de serviços diversificados para cuidar dos portadores de sofrimento psíquico. Essa abordagem tem se mostrado um importante instrumento de transformação no campo da reforma psiquiátrica e na construção do Sistema Único de Saúde (SUS). 
Dentre as conquistas dessa reforma no Brasil estão os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), as residências terapêuticas e as oficinas de geração de renda, que proporcionam um ambiente mais acolhedor e inclusivo para as pessoas com problemas mentais. O processo de reforma psiquiátrica no país é resultado do esforço dos profissionais de saúde mental em diferentes esferas do poder público e também da sociedade civil, que têm trabalhado para disseminar os princípios e ideais desse movimento.
 Por isso, é fundamental que psicólogos, psiquiatras e demais estudiosos da área continuem lutando por uma sociedade sem manicômios, onde os direitos de cidadania dos portadores de sofrimento psíquico sejam respeitados e a exclusão social seja combatida. Juntos, podemos promover uma mudança nas relações dentro das instituições sociais e construir um ambiente mais justo e acolhedor para todos.

Para saber mais a respeito da História da Psicologia Clínica, clique no link: Quero aprender mais




Em busca da verdade: o ceticismo filosófico ao longo da história

DESAFIOS E APRENDIZADOS: RELATO DE EXPERIÊNCIAS NO ENSINO REMOTO EMERGENCIAL DO IFRS

RESUMO : Em 2020, a pandemia de COVID-19 impôs a rápida transição para o ensino remoto no Brasil. Este estudo tem como objetivo analisar o ...