Autor: professor Ademilson Marques de Oliveira
Introdução
O consumo de álcool durante a
gestação é um tema que tem sido amplamente estudado, mas ainda há muitas
perguntas sem resposta sobre suas consequências no desenvolvimento infantil. É
incontestável que o uso de álcool durante a gravidez é uma das principais
causas evitáveis de defeitos de nascimento e de alterações no desenvolvimento
da criança. Portanto, é essencial que as gestantes evitem o consumo de álcool
para proteger a saúde e o bem-estar do bebê. É importante conscientizar as
mulheres sobre os riscos associados ao consumo de álcool durante a gravidez e
fornecer apoio e recursos para ajudá-las a fazer escolhas saudáveis para si
mesmas e para seus filhos.
Apesar de existir a diminuição do consumo do álcool durante a gravidez, cada vez mais aumenta o consumo pela população feminina e, em consequência disso, grande parcela de mulheres e seus fetos são expostos a doses variáveis desse agente. Estima-se que o uso frequente seja inferior a 4% ao final da gravidez. As bebedoras moderadas têm maior chance de parar ou reduzir seu consumo durante o período de gestação, porém, entre as bebedoras pesadas, dois terços diminuem o consumo e um terço continuam a abusar do álcool durante toda a gestação.
Esse fato é preocupante, principalmente quando se sabe que o consumo de álcool durante a gestação envolve grande risco, devido à embriotoxicidade e teratogenicidade fetal que a ele estão relacionadas, transformando-se em sério problema de saúde pública.
O álcool, quando ingerido pela gestante, atravessa a barreira placentária e faz com que o feto receba as mesmas concentrações da substância que a futura mãe. Porém, a exposição fetal é maior, devido ao fato de que o metabolismo e eliminação são mais lentos, fazendo com que o líquido amniótico permaneça impregnado de álcool não modificado em acetaldeído. Essa situação é ocasionada pela ausência de enzimas em quantidade necessária para a degradação de tais substâncias.
Entre as complicações pré-natais, provocadas pelo consumo de álcool, identificam-se anomalias físicas e disformismo no primeiro trimestre, aumento de duas a quatro vezes na incidência de abortamento espontâneo no segundo trimestre, fatores comprometedores durante o parto, como risco de infecções, deslocamento prematuro de placenta, hipertonia uterina, trabalho de parto prematuro e líquido amniótico meconial.
A ingestão de álcool durante a gravidez pode acarretar uma série de problemas na formação do feto. A manifestação mais severa é a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) que causa desde malformações craniofaciais, retardamento no crescimento até a incapacidade de desenvolvimento mental.
O fato de um grande número de mulheres beberem socialmente e a maioria das gestações não serem planejadas aumentam o risco de ocorrer a SAF. "Pode haver um desconhecimento do estado gestacional nos primeiros meses. Isso implica muitas vezes na exposição do embrião ao etanol, principalmente no período mais crítico e sensível da gestação", explica Cristiana Corrêa, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Geralmente, a incidência da SAF oscila entre 0,4 a 3,1 casos por 1000 nascimentos. Entre os filhos de mães alcoolistas estima-se que 30% a 40% dos recém nascidos venham a apresentar a doença. Ainda não foi definida a quantidade mínima de álcool ingerida capaz de afetar o feto.
As maiores consequências da SAF são: restrição no crescimento, com decréscimo inferior a 10% no peso e no comprimento; envolvimento do Sistema Nervoso Central, apresentando, entre outros problemas, disfunção comportamental, hiperatividade e dificuldade de adaptação social, e anomalias faciais.
A prevenção da SAF, na opinião de Corrêa, só será possível através de um sistema articulado de intervenção terapêutica na mãe alcoolista, programas educacionais nas comunidades, identificação precoce da doença e acompanhamento das crianças afetadas pela síndrome.
CONCLUSÃO
Com relação ao conhecimento dos efeitos do álcool sobre o feto, pode-se perceber que o conhecimento e as concepções relatadas pelas gestantes relacionam-se mais ao senso comum da população e às experiências vividas, do que com o preparo formal por parte dos profissionais de saúde, embora não saibam justificar suas respostas, as gestantes acreditam que o álcool traz problemas tanto para mãe quanto para o feto, sendo que, dentre os problemas atribuídos ao álcool, durante a gestação, os prejuízos ao cérebro e ao desenvolvimento é o que mais percebemos nas vítimas dessas drogas.
Observando o consumo de álcool das gestantes percebe-se que elas não informações suficiente sobre as questões relacionadas ao álcool durante o acompanhamento pré-natal. Portanto, nos possibilita a inferir que o uso e abuso de álcool entre as grávidas esteja sendo negligenciado pelos profissionais de saúde, então é necessário de maior atenção e preparo, através de orientações e esclarecimentos, sobre os prejuízos do álcool e do alcoolismo para a gestante e o feto, uma vez que esses são uma das poucas consequências atribuídas ao álcool que se pode prevenir.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1- Mari, J.J.; Razzouk, D.; Peres, MFT; Porto, JAD. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar. 1 ed. São Paulo: Manole, 2002, p. 67-72.
2- FABRI, C. E. Desenvolvimento e validação de um instrumento de rastreamento do uso nocivo de álcool durante a gravidez (T-ACE). 2002. Dissertação (Mestrado) em Medicina Social, Universidade de São Paulo (USP) Ribeirão Preto.